terça-feira, 9 de setembro de 2014

Se juntar para sobreviver.


Por *Cleyton Ferreira Lima.


Ao longo da historia a humanidade precisou sobreviver frente às diversidades naturais e sociais. Durante a era do gelo, da era glacial, precisávamos desenvolver atitudes de cooperação entre nós seres humanos, para sobreviver em meio ao clima e a escassez de comida. Com isso percebe-se que não foi à luta pela sobrevivência do mais forte que garantiu a vida dos indivíduos, mas a cooperação. Na medida em que mais e mais partilhávamos entre nos comida e afeto, conseguíamos ser mais “fortes” frente às diversidades. A própria linguagem que distingue o ser humano surgiu com essa dinâmica de partilha.
Charles Darwin é famoso pela teoria da evolução das espécies. Entretanto ele nunca usou a expressão, sobrevive o mais forte, na verdade o que Darwin trouxe é que sobrevive o mais apto à mudança.
Somos frágeis e a nossa fragilidade é tão grande que nós temos que se juntar o tempo todo para termos forças. Neste sentido não é exagero afirmar que somos seres grupais, apesar de tantas diferenças e de tantos gostos, não há como viver isolados e totalmente autônomos. Isso significa que não há outra saída a não ser juntar, unir e estar lado a lado ou não sobreviveremos.
Via de regra quanto mais pobre o ser humano mais eles se cooperam.  Vi meu avô, minha mãe e os justos que me precederam dizer – Coloca mais agua no feijão, que temos visita... ou onde come dois come três...  E ainda, quando matavam porcos , botes e outro animal que criavam dividiam com os vizinhos. Não faltava solidariedade e cooperação, assim como os mutirões para construir casas , todos se juntavam para que aquela família tivesse um lar. Ainda acontece hoje, principalmente em bairros pobres das capitais onde o “bater a laje”  se torna  uma festa de cooperação.
Todos nós queremos ser felizes e buscamos uma maneira de sermos felizes, mas nós estamos buscando isso sozinho, e como diz o poeta Tom Jobim: “...o resto é mar, são coisas que eu nem sei contar, fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho, e ainda assim a gente continua tentando.  
Lembro-me da época que trabalhei em uma empresa na área de Recursos Humanos- RH , em um recrutamento que fiz , tinha alguns testes,  entre uma pergunta sobre cooperação , o candidato ao cargo , escreveu graficamente  e gramaticalmente errado que:  devemos ajudar “unzonzontros”, para que a empresa chegue ao objetivo. Adivinha? Contratei ele, porem pedir que estudasse mais o português,  e tomasse cuidado com esses erros, mas não podia perder a oportunidade de colocar esse ser humanos que pensa na coletividade,  esse candidato foi vendedor e supervisor de vendas nessa empresa.
Para fomentarmos a cooperação e a coletividade para sobrevivermos  precisamos de lideres que pensam assim. A liderança que acredito é a do empoderamento,  é uma liderança circular. Cada ser humano te uma capacidade única e que é indispensável para a cadeia da vida. Você tem uma competência que é só sua, e por isso é maravilhoso (a). Em alguns momentos é essa competência que deve ser colocada a serviço do grupo.  Essa liderança compartilhada significa em momentos específicos exercitar esse dom que você tem, e deixar que isso flua para todos os seres, em todos os tempos.
Fui chamado a ser secretario adjunto da Secretaria Municipal de Assistência Social do município onde moro, São Mateus do Maranhão,  assumimos em janeiro de 2013, tive como secretaria  titular uma pessoal formidável Lucineth Cordeiro Machado, ex freira, militante social, advogada, e com uma experiência com comunidades eclesiais de bases e da teologia da libertação. Lucineth  semeou nessa secretaria o espirito de liderança partilhada, poucos meses depois fui condicionado a assumir a pasta como titular, onde busquei preservar esse mesmo espirito. Claro que tenho meios defeitos que não são poucos, mas na medida do possível, busco sempre fazer um trabalho coletivo e de partilha. Fui conselheiro tutelar durante três anos, assim que assumimos criamos um mecanismo para que não houvesse só um presidente, primeiro não teria eleição, todos seriam presidente durante o mandato de forma rotativa, assim todos passariam a ter a experiência da liderança, apesar do órgão ser coletivo precisa dessa função por questões burocráticas. 
Tem uma amiga minha Janaina Sotério Bezerra  que adora essa frase: “Juntos somos mais ”.  Brega? Chavão? Pode até ser, mas o fato é que a capacidade de cooperação do ser humano foi responsável pela sobrevivência e desenvolvimento da espécie. É intrínseco de nos humanos.  Não podemos viver sozinhos, nunca pudemos e, me corrija se estiver errada, nem poderemos. Vivemos em um momento onde é cada vez mais fácil e rápido conectar-se a alguém ou a um grupo de pessoas com interesses em comum. Queremos se juntar nem que seja virtualmente.
Que sirva de exemplo o milagre de Jesus Cristo da multiplicação dos pães, constante nos evangelhos sinóticos, prova de que pela partilha, pela cooperação o alimento sacia a todos e ainda sobra. Jesus Cristo mostrou isso, e alguns dos seus seguidores colocam em pratica.
          Se juntar é uma utopia nesse mundo individualista?  Então que seja. Thomas Morus quando criou a palavra utopia, no século XVI, era um conhecedor do grego clássico. Muita gente traduz utopia como sendo “lugar nenhum” ou como ‘impossível’. Mas topos vem de lugar, por isso a palavra utopia. Se ele quisesse dizer lugar nenhum, ou impossível, ele teria escrito atopia. Porque ‘a’, em grego, é o prefixo de negação para lugar. U, em grego, é negação para tempo. Por isso, utopia significa ainda não. E por isso eu desejo que seja uma utopia de fato, no contexto para a humanidade e para o pessoal, eu  Cleyton Ferreira Lima a cada dia preciso acreditar nisso , posso ainda não ter conseguindo em plenitude, mas é minha utopia eu ser mais humano e me juntar mais .  Eduardo Galeano tem uma definição ótima de utopia, ele diz: “A minha utopia é o meu horizonte. Eu ando dois passos na direção dele e ele se afasta dois passos. Eu ando dez passos na direção dele, e ele se afasta dez passos”. Disse ele: “Eu já entendi. A minha utopia não é para eu chegar a ela, é para me impedir de parar de caminhar”. Por isso, é sim uma utopia.




* CLEYTON FERREIRA LMA, filho de lavradores , sempre estudou em escola pública, Sãomateuense de corpo, alma, mente e coração. Ex Conselheiro Tutelar, Assistente Social, Especialista em Gestão Publica, atualmente está como Secretario Municipal de Assistência Social em São Mateus do Maranhão, cristão católico, 30 anos, apaixonado por música de verdade; não conformado com este mundo; sonho com uma sociedade justa e fraterna. Romântico que ainda acredita no amor.  ferreiralima777@hotmail.com fone: 99 81102287.

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