Por *Cleyton Ferreira Lima.
Ao longo da
historia a humanidade precisou sobreviver frente às diversidades naturais e
sociais. Durante a era do gelo, da era glacial, precisávamos desenvolver
atitudes de cooperação entre nós seres humanos, para sobreviver em meio ao clima
e a escassez de comida. Com isso percebe-se que não foi à luta pela
sobrevivência do mais forte que garantiu a vida dos indivíduos, mas a
cooperação. Na medida em que mais e mais partilhávamos entre nos comida e
afeto, conseguíamos ser mais “fortes” frente às diversidades. A própria
linguagem que distingue o ser humano surgiu com essa dinâmica de partilha.
Charles Darwin é famoso pela teoria da
evolução das espécies. Entretanto ele nunca usou a expressão, sobrevive o mais
forte, na verdade o que Darwin trouxe é que sobrevive o mais apto à mudança.
Somos frágeis
e a nossa fragilidade é tão grande que nós temos que se juntar o tempo todo
para termos forças. Neste sentido não é exagero afirmar que somos seres grupais,
apesar de tantas diferenças e de tantos gostos, não há como viver isolados e
totalmente autônomos. Isso significa que não há outra saída a não ser juntar,
unir e estar lado a lado ou não sobreviveremos.
Via de regra
quanto mais pobre o ser humano mais eles se cooperam. Vi meu avô, minha mãe e os justos que me
precederam dizer – Coloca mais agua no feijão, que temos visita... ou onde come
dois come três... E ainda, quando
matavam porcos , botes e outro animal que criavam dividiam com os vizinhos. Não
faltava solidariedade e cooperação, assim como os mutirões para construir casas
, todos se juntavam para que aquela família tivesse um lar. Ainda acontece
hoje, principalmente em bairros pobres das capitais onde o “bater a laje” se torna
uma festa de cooperação.
Todos nós
queremos ser felizes e buscamos uma maneira de sermos felizes, mas nós estamos
buscando isso sozinho, e como diz o poeta Tom Jobim: ...o resto é
mar, são coisas que eu nem sei contar, fundamental é mesmo o amor, é impossível
ser feliz sozinho, e ainda assim a gente continua tentando.
Lembro-me da época que trabalhei em
uma empresa na área de Recursos Humanos- RH , em um recrutamento que fiz ,
tinha alguns testes, entre uma pergunta
sobre cooperação , o candidato ao cargo , escreveu graficamente e gramaticalmente errado que: devemos ajudar “unzonzontros”, para que a empresa chegue ao objetivo. Adivinha? Contratei
ele, porem pedir que estudasse mais o português, e tomasse cuidado com esses erros, mas não
podia perder a oportunidade de colocar esse ser humanos que pensa na
coletividade, esse candidato foi
vendedor e supervisor de vendas nessa empresa.
Para fomentarmos a cooperação e a
coletividade para sobrevivermos
precisamos de lideres que pensam assim. A
liderança que acredito é a do empoderamento, é uma liderança circular. Cada ser humano te
uma capacidade única e que é indispensável para a cadeia da vida. Você tem uma
competência que é só sua, e por isso é maravilhoso (a). Em alguns momentos é
essa competência que deve ser colocada a serviço do grupo. Essa liderança compartilhada significa em
momentos específicos exercitar esse dom que você tem, e deixar que isso flua
para todos os seres, em todos os tempos.
Fui chamado a
ser secretario adjunto da Secretaria Municipal de Assistência Social do
município onde moro, São Mateus do Maranhão, assumimos em janeiro de 2013, tive como
secretaria titular uma pessoal
formidável Lucineth Cordeiro Machado, ex freira, militante social, advogada, e
com uma experiência com comunidades eclesiais de bases e da teologia da
libertação. Lucineth semeou nessa
secretaria o espirito de liderança partilhada, poucos meses depois fui condicionado
a assumir a pasta como titular, onde busquei preservar esse mesmo espirito. Claro
que tenho meios defeitos que não são poucos, mas na medida do possível, busco
sempre fazer um trabalho coletivo e de partilha. Fui conselheiro tutelar durante
três anos, assim que assumimos criamos um mecanismo para que não houvesse só um
presidente, primeiro não teria eleição, todos seriam presidente durante o
mandato de forma rotativa, assim todos passariam a ter a experiência da
liderança, apesar do órgão ser coletivo precisa dessa função por questões
burocráticas.
Tem uma amiga
minha Janaina Sotério Bezerra que adora
essa frase: “Juntos somos mais ”. Brega?
Chavão? Pode até ser, mas o fato é que a capacidade de cooperação do ser humano
foi responsável pela sobrevivência e desenvolvimento da espécie. É intrínseco
de nos humanos. Não podemos viver
sozinhos, nunca pudemos e, me corrija se estiver errada, nem poderemos. Vivemos
em um momento onde é cada vez mais fácil e rápido conectar-se a alguém ou a um
grupo de pessoas com interesses em comum. Queremos se juntar nem que seja
virtualmente.
Que sirva de
exemplo o milagre de Jesus Cristo da multiplicação dos pães, constante nos
evangelhos sinóticos, prova de que pela partilha, pela cooperação o alimento
sacia a todos e ainda sobra. Jesus Cristo mostrou isso, e alguns dos seus
seguidores colocam em pratica.
Se juntar é uma utopia nesse mundo
individualista? Então que seja. Thomas
Morus quando criou a palavra utopia, no século XVI, era um conhecedor do grego
clássico. Muita gente traduz utopia como sendo “lugar nenhum” ou como
‘impossível’. Mas topos vem de lugar,
por isso a palavra utopia. Se ele quisesse dizer lugar nenhum, ou impossível,
ele teria escrito atopia. Porque
‘a’, em grego, é o prefixo de negação para lugar. U, em grego, é negação para
tempo. Por isso, utopia significa ainda
não. E por isso eu desejo que seja uma utopia de fato, no contexto para a
humanidade e para o pessoal, eu Cleyton
Ferreira Lima a cada dia preciso acreditar nisso , posso ainda não ter
conseguindo em plenitude, mas é minha utopia eu ser mais humano e me juntar
mais . Eduardo Galeano tem uma definição
ótima de utopia, ele diz: “A minha utopia é o meu horizonte. Eu ando dois
passos na direção dele e ele se afasta dois passos. Eu ando dez passos na
direção dele, e ele se afasta dez passos”. Disse ele: “Eu já entendi. A minha
utopia não é para eu chegar a ela, é para me impedir de parar de caminhar”. Por
isso, é sim uma utopia.
* CLEYTON
FERREIRA LMA, filho de lavradores , sempre estudou em escola pública,
Sãomateuense de corpo, alma, mente e coração. Ex Conselheiro Tutelar, Assistente
Social, Especialista em Gestão Publica, atualmente está como Secretario
Municipal de Assistência Social em São Mateus do Maranhão, cristão católico, 30
anos, apaixonado por música de verdade; não conformado com este mundo; sonho
com uma sociedade justa e fraterna. Romântico que ainda acredita no amor. ferreiralima777@hotmail.com fone: 99 81102287.